segunda-feira, 13 de junho de 2016

A garota do livro, de Marya Cohn


Segunda-feira passada fui ao cinema ver o filme A garota do livro (The Girl in the Book), apesar de ter lido críticas negativas sobre ele.

Tive curiosidade de ver esse filme porque a protagonista é uma jovem editora nova-iorquina que precisa lidar com questões pessoais do passado e do presente enquanto reedita um livro de ficção, entre outras atividades de rotina em uma editora.

O filme não é surpreendente nem uma "obra-prima", mas é possível observar algumas semelhanças com a vida real e por isso foi interessante.

O que mais me chamou a atenção foi o fato de a Alice (há uma referência à Alice do País da Maravilhas - ambas parecem totalmente perdidas em meio a uma realidade que não faz sentido), como uma jovem editora (ou talvez "assistente editorial"), precisar fazer várias atividades que não têm necessariamente a ver com a edição de livros, como, por exemplo:

- cuidar pessoalmente do evento em que o autor lerá um trecho do livro que está sendo reeditado; isso significa, entre outras coisas, cuidar da arte do convite a ser enviado, acho que por e-mail, para os convidados e depois ficar ligando para as pessoas para confirmar a presença delas no evento;

- agendar almoço nos restaurantes para o editor;

- remarcar horário do psicanalista para o editor;

- fazer ligações para o editor e depois passar a chamada para ele;

- acompanhar o autor a uma entrevista para a TV em que ele fala sobre si e sua obra.

Me identifiquei com isso porque é bastante verossímil; já fiz algumas coisas que não tinham nada a ver com editar livros enquanto assistente editorial/ editora júnior. Por exemplo: comprar acessórios de maçonaria, verificar relatórios contábeis e tirar dúvidas de ortografia de uma editora. Imagino que todo jovem editor passa por isso, talvez como uma prova de fogo: "se você quer mesmo ser editor, precisa passar por essas coisas".

Uma amiga contou que teve um "conflito" com a editora com quem ela trabalhava porque a tal editora deixava bilhetes na mesa dela para que ela ligasse para o médico para marcar consultas, ligasse para a mãe dela para deixar recado etc. Depois de um tempo ela se encheu e foi falar com a editora-chefe para questionar quais eram exatamente as funções dela ali na editora, porque ela pensava que tinha sido contratada para ajudar a editar livros (o que já era uma tarefa e tanto) e não ficar de secretária da editora. Um tempo depois ela foi transferida para trabalhar com outro editor. Acho que foi mais ou menos nessa época que entrei na editora, porque a vaga dela ficou vaga, aí fui trabalhar com a tal editora, mas ela nunca deixou bilhetes na minha mesa para que eu fizesse ligações pessoais para ela, ainda bem. O mais bizarro é que a editora devia achar normal esse tipo de comportamento - ter sempre alguém que fizesse as coisas chatas para ela, porque ela, alguém tão importante, não "tinha tempo" para fazê-las... sendo que o tempo que ela devia perder para escrever o bilhete explicando o que devia ser feito era o mesmo tempo que ela gastaria para pegar no telefone e fazer a ligação necessária. Não entendo direito como as pessoas podem achar "bonito" ou "normal" mandar os outros fazerem coisas que elas mesmas deveriam/ poderiam fazer.

Vendo esse filme, achei engraçado pensar que quem está do lado de fora talvez ache glamouroso ser editor(a) de livros, mas a verdade não é exatamente assim. Ou pelo menos o começo da carreira, em geral, é bem difícil.

Um aspecto muito legal da profissão é o fato de a Alice ter lido o original de uma autora nova e depois ter falado sobre isso com o editor, ela achava que a autora tinha muito potencial, que o material dela era muito bom. Mas (!), quando o original foi aprovado para publicação, o próprio editor quis cuidar do livro, sendo que a Alice estava ansiosa para desenvolver esse projeto, o que a deixou frustrada.

[SPOILER!] Além do aspecto editorial, alguns episódios da vida pessoal da protagonista também são mostrados em flashback. Quando ela era adolescente, o autor do livro que ela foi obrigada a reeditar a assediou, além de ter se apropriado da vida dela para escrever o livro que ela está reeditando. O assédio aconteceu em uma das ocasiões em que ele supostamente dava dicas de como ela poderia melhorar a escrita, já que ela gostava de escrever; depois do assédio e de ter descoberto que tudo que eles viveram foi usado como matéria-prima para o livro em questão, ela não conseguiu mais escrever.

Esse filme vale a pena para conhecer um pouco mais sobre o trabalho editorial, apesar de certos clichês (romance da protagonista com um cara "para casar", eles brigam, mas depois tudo termina em happy end...).


O trailer é este:




2 comentários:

  1. Oi, Aline. Fiquei interessada nesse filme.
    Não sei se você já assistiu a série Younger, mas também fala sobre uma mulher que trabalha em uma editora. O trabalho não é o foco da história, mas aparece bastante durante a série.

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    1. Oi, Janaina!
      Obrigada pela dica! Nunca vi a série Younger (não sou muito de séries), mas vou procurar.

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