terça-feira, 20 de setembro de 2016

A loja de tudo, de Brad Stone



Estou orgulhosa de mim! Há alguns meses terminei de ler A loja de tudo, de Brad Stone, de 400 páginas, no Kindle.

Decidi ler este livro depois de ler este post, em que o autor enumera seis livros essenciais para entendermos o mundo atual.

A loja de tudo se refere a como Jeff Bezos, fundador da Amazon, gostaria que sua empresa fosse conhecida: uma loja que vende de tudo (no Brasil, por enquanto, a Amazon só vende livros, mas no site americano é possível comprar de tudo). 

A leitura desse livro me deixou ao mesmo tempo admirada e estarrecida. Admiro a ousadia e a capacidade de Bezos em tentar sempre inovar e dar a melhor experiência de compra possível para os clientes, no entanto, sua ambição é assustadora. Fiquei assombrada com as estratégias usadas pela Amazon, em geral coordenadas pelo próprio Bezos, para enfraquecer e quebrar outras empresas, o que, várias vezes, acabou acontecendo. 

O livro tem partes enfadonhas, principalmente na primeira metade, pois o autor conta muitos detalhes sobre vários funcionários de alto escalão, contratados de empresas concorrentes (Walmart, Google, Apple...), por terem experiência em áreas que interessavam à Amazon, e às vezes eu não conseguia identificar quem era quem. 

Gostei especialmente do último terço, quando o autor escreve sobre o Kindle e a estratégia da Amazon em relação aos e-books. Apesar disso, julguei brutal a forma com que a Amazon abordou as editoras americanas, praticamente obrigando-as a transformar boa parte de seu catálogo impresso em e-books (caso não fizessem isso, perderiam "privilégios" de anúncio no site da Amazon, ou seja, perderiam milhares de vendas; fico imaginando que o pessoal da Amazon devia pressionar as editoras para que elas entendessem o recado do tipo: "se vocês não fizerem o que nós queremos, vão sofrerão graves prejuízos"). 

Cheguei à conclusão, não sei se correta, de que o plano em
 longo prazo da Amazon é eliminar o máximo de editoras possível. Com o advento dos e-books e da plataforma de autopublicação no site da Amazon, teoricamente, o trabalho das editoras e das livrarias não seria mais necessário. É terrível pensar que isso pode se tornar realidade porque quebraria toda a cadeia do livro. Se e quando os e-books se tornarem extremamente baratos (e não duvido que Bezos fará de tudo para que isso aconteça), eles serão vendidos no site da Amazon, o que acarretaria o enfraquecimento de editoras, gráficas e livrarias. Aliás, a ideia de Bezos é essa: eliminar "intermediários" entre o autor e o leitor. Não sei qual a porcentagem de direitos autorais paga aos autores independentes que publicam pelo KDP (Kindle Direct Publishing) atualmente, mas esse valor era de 40% (a média de direitos autorais paga pelas editoras tradicionais aos autores é de 10%).

Há alguns anos, a Amazon criou e tentou investir em uma editora, contratando um figurão do mercado editorial de Nova York, para que ele escolhesse e editasse possíveis best-sellers, mas o projeto não decolou e foi ridicularizado pelos demais editores americanos. 

Prevejo que uma hora ou outra o projeto de Bezos de "eliminar os obstáculos" entre autor e leitor vai vingar, e as editoras convencionais de países em que a Amazon atua sofrerão um grande golpe. Pelo que li no livro, os planos dele sempre foram de longo prazo e ele e seus executivos sempre souberam "jogar" bem e atacar na hora certa. Se o que ele planejou ainda não deu certo, provavelmente é porque ainda não amadureceu o suficiente.

Desconfio que os preços relativamente altos para os e-books (em relação aos livros impressos) tenha a ver com alguma regulação interna entre as editoras e as livrarias. Fiquei pensando que não faz sentido vender e-books por um valor alto para X pessoas, sendo que a editora poderia vender e-books mais baratos para 10X ou 100X pessoas. Imagino que para a editora e para os autores não importa de onde vem o lucro. Quanto mais unidades forem vendidas, melhor, mais popular os e-books se tornam; e quanto mais barato for o e-book, mais vai vender. Um professor do MBA comentou que o preço do e-book era "caro" porque relativamente poucas pessoas os compravam; a partir do momento em que mais pessoas passarem a comprar, o preço vai baixar. Não sei se essa é a verdade ou a lógica da coisa. Como é que as pessoas vão passar a comprar mais sendo que a maioria acha os e-books caros? Voltando à "regulação interna", tenho a teoria de que as editoras estabelecem um preço mínimo pelo qual a Amazon pode vender seus e-books, em geral, não muito barato, para que não haja uma migração em massa para a leitura digital. E por que isso não é interessante para as editoras? Bom, porque as editoras precisam das livrarias para escoar os livros físicos. Se uma boa parte dos leitores migrarem para os leitores digitais, as livrarias não terão mais razão de existir e vão fechar... e então será muito difícil para as editoras escoarem sua produção impressa. Não sei se isso faz sentido, mas fiquei pensando nessas coisas enquanto lia esse livro.

Compro na Amazon com certa regularidade por conta de preço e atendimento impecável, mas de agora em diante provavelmente farei isso com certo peso na consciência. Não sei até que ponto é "ético" privilegiar empresas que visam o monopólio e querem massacrar os concorrentes. No fim, isso acaba sendo ruim, pois, sem muita concorrência, os preços tendem a subir.


Apesar de não concordar com a forma com que Jeff Bezos age para destruir seus concorrentes e pressionar seus fornecedores, além de estimular seus funcionários a abrirem mão de vida pessoal para se dedicarem ao máximo à Amazon (ou pelo menos essa é a ideia que o livro passa), admiro seu lado visionário. Ele, aparentemente, consegue vislumbrar o futuro e quais serão as necessidades das pessoas e, com base nisso, toma decisões em relação aos investimentos. Admiro pessoas que apostam alto em suas próprias ideias.



Curiosidades:

* Bezos é o sobrenome do padrasto de Jeff, que o criou desde pequeno;


* Jeff integrou um programa para crianças superdotadas, em que foi estimulado a desenvolver habilidades inatas;


* A Amazon começou a funcionar em uma garagem em Seattle em 1995 e, depois de um tempo, passou a receber tantos pedidos que a situação na empresa era caótica (é admirável como a empresa saiu de um certo "caos" para, décadas depois, chegar à excelência no atendimento ao cliente - ou algo próximo disso);


* Jeff está envolvido com um projeto de construção de um relógio de 10 mil anos;


* Jeff também fundou a Blue Origin, uma empresa que fabrica foguetes, que funcionou em segredo por vários anos.


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