sexta-feira, 18 de julho de 2014

Livros, Editoras & Projetos


Título: Livros, Editoras & Projetos
Autores: Plinio Martins Filho (org.), Jerusa Pires Ferreira, Jacó Guinsburg e Maria Otilia Bocchini
Editora: Ateliê Editorial
Formato: 16x16 cm
Nº de páginas: 120
Ano de publicação: 2007 (3ª edição)

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Apesar de ter sido publicado pela primeira vez em 1997, este livro contêm muitas informações úteis e ainda válidas para quem trabalha no mercado editorial ou se interessa pelo assunto, além de conter várias referências a outros livros e estudos da área.

No primeiro capítulo, "A proposta", Jerusa Pires Ferreira, professora livre-docente da ECA-USP, escreve sobre a importância de se discutir e pensar o processo de produção do livro e cita várias referências.

Em "O editor e o projeto" (meu capítulo preferido), Jacó Guinsburg, professor da ECA-USP e da FFLCH, fundador e diretor da Editora Perspectiva, discorre sobre o papel e importância do editor, editoras universitárias, a dificuldade de se administrar uma editora com esse perfil e suas experiências como editor dos projetos da Editora Perspectiva.

Gostei muito e me identifiquei com esse trecho do Jacó Guinsburg (p. 43):

Uma editora não é apenas uma opção profissional. É uma opção de vida também, porque o livro é mais ou menos como aquela coisa do cacau de Jorge Amado: pega no pé da gente. É o visgo que pega no pé da gente. Quem trabalha com livros, dificilmente sai da área, porque há todo um envolvimento que eu sequer poderia objetivar. Um envolvimento que decorre de muitos aspectos, e do qual surge, tanto para os que atuam no campo da produção, como para aqueles que trabalham mais especificamente na realização gráfica, na distribuição comercial ou nas tarefas da editoração, um apelo que é muito grande. Conheço, mesmo, pessoas com trinta, quarenta, cinquenta anos em todas essas áreas de produção de livros, e que mantêm seu interesse, seu entusiasmo até pela natureza desse objeto que é tão imaterial. [...]

O capítulo "A relação produtor/editor" foi escrito por Plinio Martins Filho, professor do curso de Produção Editorial da ECA-USP e diretor editorial da Edusp, além de ter atuado como produtor, revisor e diagramador, principalmente da Editora Perspectiva. Aqui, Plinio conta um pouco sobre a concepção e produção da coleção Debates e da coleção Estudos e sobre as praticidades e eventuais problemas de se editar coleções, como, por exemplo, a economia em projeto (em uma coleção, todos os livros precisam ter o mesmo formato e apresentar o mesmo projeto) e a necessidade de pensar na coleção como um todo, incluindo o formato de papel a ser utilizado para que haja o máximo de aproveitamento. Para se imprimir livros, há formatos de papel padrão (66x96 cm ou 87x114 cm, entre outros) e, dependendo do formato do livro, um formato de papel é mais indicado que outro, visando seu maior aproveitamento; por exemplo, para se produzir livros em formato 16x23 cm, o formato mais indicado é o 66x96 cm.

Em seguida, Plinio explica sobre dois tipos de montagem do livro: o linotipo e a composer, que, para falar a verdade, não entendi direito, e que, pelo que sei, não são mais comumente utilizados. O que acontece hoje em dia, que pude presenciar em visitas a três gráficas, é o seguinte: a editora envia o arquivo em alta resolução no formato PDF (geralmente diagramado no programa InDesign pelo designer) e, a partir desse arquivo, são gravadas "chapas" com o conteúdo do livro e essas chapas são utilizadas em grandes impressoras para impressão de tiragens a partir de 500 exemplares - tiragens menores que isso têm um preço muito alto e, em geral, não compensam para a editora. E, também, hoje em dia tiragens menores (em geral, a partir de 10 exemplares, embora algumas gráficas trabalhem com um número ainda menor) são impressas em "gráficas digitais". Esse tipo de gráfica nem chega a gravar chapas; o livro é rodado em impressoras especiais e o livro tem o mesmo resultado e aparência do livro impresso em offset (em grandes impressoras). Portanto, penso que essa parte do texto precisaria ser atualizada.

Em "Projetos editoriais em laboratório", Maria Otilia Bocchini, professora da ECA-USP, conta sobre a experiência e dificuldades de se manter uma editora-laboratório, como é o caso da Com-Arte, que faz parte do curso de Produção Editorial da ECA. Não sei como está este laboratório atualmente, mas ela conta que havia várias dificuldades a ser superadas para que o laboratório continuasse funcionando e para que os alunos tivessem um contato com a área em que atuariam. A Com-Arte chega a publicar livros "de verdade", produzidos pelos próprios alunos, com supervisão de professores. Pessoalmente, acho a experiência superválida, uma vez que muitos alunos ali vão atuar em editoras de livros depois de formados.

Por fim, Jerusa Ferreira, que assinou o primeiro capítulo, encerra o livro com um texto-resumo sobre um trabalho com editoras populares do Brás, que editam livros com forte apelo para as camadas mais "populares", como é o caso, por exemplo, de operários. Entre os livros mais vendidos dessas editoras estão livros de significado dos sonhos, de santos, romances (imagino que do tipo Julia e Bianca) e guias para autoaprendizado (como aprender a lutar karatê, por exemplo). Hoje em dia talvez o perfil dessas editoras tenha mudado um pouco (considerando que a 1ª edição deste livro foi publicada em 1997 e a 3ª edição em 2007), pois houve um aumento do poder aquisitivo dessas camadas da população nos últimos anos e, talvez, agora haja uma maior exigência em relação aos produtos/livros a ser consumidos ou mesmo uma alteração no gosto/demanda desse tipo de público.

Gostei muito da leitura e recomendo.


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