quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O negócio dos livros 2015 - Relatório da Feira do Livro de Frankfurt/ Business Club


Em junho saiu o relatório com uma visão geral do mercado editorial de 2015, elaborado por Rüdiger Wischenbart, do Business Club, grupo ligado à Feira do Livro de Frankfurt, mas só consegui ler agora. No ano passado comentei sobre o relatório de 2014 aqui. Para baixar o relatório de 2015, basta clicar aqui. E neste ano também foi disponibilizada uma revista eletrônica com artigos relacionados à promoção da leitura em vários lugares do mundo.

No relatório deste ano, foi apontado que os países pertencentes ao BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), entre outros países com "economia emergente", entraram de vez no mundo globalizado dos livros, uma vez que a classe média desses países estão cada vez mais interessados em obter educação e entretenimento proporcionados pelos livros. Esse crescimento é mais notável na China. Na Europa, o mercado de livros se manteve estável ou diminuiu nos últimos anos. Apenas alguns países, como os Estados Unidos, têm ganhado confiança e transposto os primeiros estágios de transição para a era digital.

No relatório há um gráfico mostrando o tamanho do mercado de publicação em relação aos outros mercados de entretenimento (segundo o relatório, o mercado de publicação gira em torno de 14 bilhões de Euros), mas o gráfico é péssimo para visualizar as informações de modo claro por causa das cores muito semelhantes (obrigada, designer responsável!).


Como o crescimento e a redução do mercado editorial é desigual, a média de crescimento global ficou em 0% entre 2008 e 2013. Apenas os livros de educação tiveram um aumento de 0,2%. Além disso, os maiores mercados (Estados Unidos, China, Alemanha, Japão, Reino Unido e França) são responsáveis por 60% dos rendimentos globais.


Os Estados Unidos, depois de superarem a crise de 2008, ganharam confiança e apresentaram crescimento de mercado, além de terem passado pelas primeiras fases de transição para os e-books (houve um "boom" entre os anos de 2010 e 2011, embora depois o crescimento tenha parado). Atualmente esse mercado responde por 21% das vendas. Em 2014 foram vendidas as mesmas quantidades de livros em capa dura e e-books. Em 2013, as vendas on-line de livros ultrapassaram as vendas em lojas físicas, o que continuou a acontecer em 2014. [Imagino que essa seja uma tendência mundial ou será em breve.]

Na Europa, o mercado continua diminuindo, como já vem acontecendo há alguns anos e essa perda de mercado não está sendo recompensada pelo lento aumento no consumo de e-books. Na maioria dos países europeus, os únicos gêneros que apresentaram crescimento significativo foram o infantil e o YA (jovens adultos).

Uma curiosidade: os e-books na Alemanha, em geral, custam apenas 20% a menos do que o preço de capa dos livros físicos de capa dura. Por algum motivo, eu achava que só no Brasil a diferença de preços entre livros físicos e e-books fosse pequena, sendo que, às vezes, vejo e-books mais caros que cópias impressas e não consigo uma explicação lógica para isso. Na Espanha, e-books (lançamentos) custam cerca de 50% a menos do que os livros físicos.

O quadro abaixo é interessante para se ter noção de como andam os mercados com "economias emergentes". É realmente notável o crescimento do mercado editorial na China, enquanto o Brasil apresentou um crescimento mínimo em 2011 e 2013 e crescimento negativo em 2012 e 2014...


O Brasil, diferente do que investidores internacionais achavam, não apresentou crescimento real.


Apesar do baixo crescimento, o mercado brasileiro ainda é um território de que muitos querem participar - o autor do relatório cita a aquisição da Saraiva (terceira maior empresa da área no Brasil) pela Abril Educação em junho de 2015. [Lembro de ter lido sobre isso na época; parece que a Saraiva quer focar o negócio na venda de livros, principalmente on-line, por isso abriu mão da editora.]

Por este relatório, posso concluir que o mercado de livros é/está bastante volátil. Empresas estão comprando outras e, provavelmente, estão em busca constante de como direcionar melhor seus investimentos, considerando a evolução tecnológica e a situação econômica atual. 

Estimo que, no Brasil, o mercado de livros vai continuar em declínio (agravado pela crise econômica e também pelo corte de gastos com livros já anunciados pelo governo este ano) e melhorar aos poucos daqui a alguns anos. E talvez aconteça o que aconteceu na Índia: como a Amazon estimula a autopublicação e os e-books autopublicados costumam ser mais baratos, talvez haja um "boom" nas vendas intermediadas pelo site, já que talvez os leitores busquem alternativas de leitura mais econômicas.

Rüdiger Wischenbart, autor desse relatório, estará na Bienal do Rio deste ano, apresentando uma palestra no I Encontro Internacional de Profissionais do Livro [clique aqui para saber mais]. Ele também elaborou o relatório "Global eBook - a report on market trends", disponível por 15 Euros, aqui. Pretendo comprar esse relatório, pois acredito que vai ser útil para obter dados para o meu TCC, do qual falarei em outro post daqui um tempo.

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