sábado, 1 de fevereiro de 2014

Bakuman - Tsugumi Ohba e Takeshi Obata


Esse mangá também foi o Sergio que me emprestou. Ele já tinha me falado várias vezes dele, mas eu só queria ler depois que a série tivesse terminado, quando eu pegaria todos os volumes emprestados para ler de uma vez, porque saberia que a história teria começo, meio e fim. O que me irrita nos mangás é que são serializados e a publicação pode ser interrompida a qualquer momento se não forem vendidos de acordo com a expectativa da editora. Aí tem que ficar caçando o restante na internet (se tiver a sorte de a publicação não ter sido interrompida no Japão também) em alguma língua que dê pra ler. Não tenho paciência.

Mas, voltando a este mangá, comecei a ler e achei interessante. Pedi para o Sergio me emprestar todos os outros volumes que ele tem (ele disse que tem até o 10 - por enquanto, li até o 4).
Vários argumentos no enredo são bobinhos, mas o que está prendendo a minha atenção são os bastidores de uma editora de mangás (a Shueisha, que realmente existe: http://www.shueisha.co.jp/english/, e que publicou esse mangá originalmente no Japão) - como funciona a hierarquia editorial e de que forma os profissionais envolvidos lidam com a seleção e comercialização do produto mangá, além da relação mangakás-editores. É bem interessante. Tem também algumas partes profundas, em que os protagonistas, apesar de muito jovens (no início da série, eles têm 14 anos), refletem sobre a vida e o futuro que desejam para si - diferente do que a maioria dos japoneses "razoáveis" esperam, ou seja, estudar bastante, entrar em bons colégios, ter um ótimo desempenho e entrar nas melhores faculdades e, depois, nas melhores empresas, para ter dinheiro e status (no mundo inteiro isso deve ser igual, mas no Japão parece ser um traço cultural muito forte e é esse o tipo de sucesso que os pais esperam dos filhos - do contrário, se eles frequentam colégios e universidades ruins, acho que a probabilidade de alcançar esse ideal de "sucesso" fica cada vez mais distante). Achei uma passagem surpreendente, quando um dos personagens pensa ou diz algo do tipo: "Se você não faz algo que tenha valor comercial, então não vale nada" - eu demorei bem mais para perceber isso. Aos 14 anos, eu não tinha noção de que se você não tem muito dinheiro e/ou se não produz algo que dê muito dinheiro, então não tem valor para a maior parte da sociedade.

Bakuman é a história de dois meninos, Moritaka Mashiro e Akito Takagi, que sonham em virar mangakás (criadores de mangás). Takagi é roteirista e convida Mashiro para formar dupla com ele, já que o segundo desenha muito bem. Em princípio, Mashiro hesita, pois um tio seu morreu de tanto trabalhar como mangaká e ele não queria mais pensar nesse assunto. Takagi insiste tanto que ele acaba aceitando. O que mais motiva Mashiro a se tornar um mangaká de sucesso é a promessa que a garota de quem ele gosta, Miho Azuki, fez: quando os dois realizarem seus sonhos, eles podem se casar. O sonho de Azuki é se tornar dubladora e dublar a heroína do anime feito a partir do mangá que a dupla pretende escrever  - e esse mangá precisa fazer muito sucesso para virar anime! Essa é a "desculpa" que o roteirista do Bakuman, Tsugumi Ohba, usa para mostrar como funciona a "indústria" de mangás - ou pelo menos a minha impressão é essa. A arte é assinada por Takeshi Obata.

Eu sei que talvez seja preconceito meu, mas não me animo a ler a maioria dos mangás, porque, pelo menos para mim, é bem claro que o mangá é muito mais um produto comercial do que cultural. Não importa se o roteiro é coerente, se mostra algo novo e interessante aos leitores, pode ser a coisa mais imbecil do mundo, mas, se as pessoas gostam e compram, se torna algo de grande valor. Em Bakuman, a expectativa de vendas é medido por uma enquete feita pela editora: só os mangás aprovados pelo público têm chances de continuar sendo publicados. Como a publicação é muito regulada pelo gosto (duvidoso) do público, então a criatividade e a genialidade dos mangakás não podem se manifestar livremente, estando sempre condicionadas às limitações e vontades do público-alvo. Não é triste isso?

De qualquer forma, esse mangá está sendo bastante interessante do ponto de vista profissional. Dá para ter uma ideia de todo o processo de produção de um mangá, contratação de mangakás, como se desenvolve a carreira de um mangaká e de um editor de mangás, de que forma roteirista, ilustrador e editor trabalham juntos, a rivalidade entre os profissionais da área. E, apesar de o mote principal do roteiro não ser muito plausível (com 14 anos, quem pensa em prometer se casar com outra pessoa quando seus sonhos se realizarem?), o restante me interessa.
Publicado originalmente em 08/07/2012 aqui.

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