Esse mangá também foi o Sergio que me emprestou. Ele já tinha me falado 
várias vezes dele, mas eu só queria ler depois que a série tivesse 
terminado, quando eu pegaria todos os volumes emprestados para ler de 
uma vez, porque saberia que a história teria começo, meio e fim. O que 
me irrita nos mangás é que são serializados e a publicação pode ser 
interrompida a qualquer momento se não forem vendidos de acordo com a 
expectativa da editora. Aí tem que ficar caçando o restante na internet 
(se tiver a sorte de a publicação não ter sido interrompida no Japão 
também) em alguma língua que dê pra ler. Não tenho paciência.
Mas, voltando a este mangá, comecei a ler e achei interessante. Pedi 
para o Sergio me emprestar todos os outros volumes que ele tem (ele 
disse que tem até o 10 - por enquanto, li até o 4).
Vários argumentos no enredo são bobinhos, mas o que está prendendo a 
minha atenção são os bastidores de uma editora de mangás (a Shueisha, 
que realmente existe: http://www.shueisha.co.jp/english/,
 e que publicou esse mangá originalmente no Japão) - como funciona a 
hierarquia editorial e de que forma os profissionais envolvidos lidam 
com a seleção e comercialização do produto mangá, além da relação 
mangakás-editores. É bem interessante. Tem também algumas partes 
profundas, em que os protagonistas, apesar de muito jovens (no início da
 série, eles têm 14 anos), refletem sobre a vida e o futuro que desejam 
para si - diferente do que a maioria dos japoneses "razoáveis" esperam, 
ou seja, estudar bastante, entrar em bons colégios, ter um ótimo 
desempenho e entrar nas melhores faculdades e, depois, nas melhores 
empresas, para ter dinheiro e status (no mundo inteiro isso deve ser 
igual, mas no Japão parece ser um traço cultural muito forte e é esse o 
tipo de sucesso que os pais esperam dos filhos - do contrário, se eles 
frequentam colégios e universidades ruins, acho que a probabilidade de 
alcançar esse ideal de "sucesso" fica cada vez mais distante). Achei uma
 passagem surpreendente, quando um dos personagens pensa ou diz algo do 
tipo: "Se você não faz algo que tenha valor comercial, então não vale 
nada" - eu demorei bem mais para perceber isso. Aos 14 anos, eu não 
tinha noção de que se você não tem muito dinheiro e/ou se não produz 
algo que dê muito dinheiro, então não tem valor para a maior parte da 
sociedade.
Bakuman é a história de dois meninos, Moritaka Mashiro e Akito 
Takagi, que sonham em virar mangakás (criadores de mangás). Takagi é 
roteirista e convida Mashiro para formar dupla com ele, já que o segundo
 desenha muito bem. Em princípio, Mashiro hesita, pois um tio seu morreu
 de tanto trabalhar como mangaká e ele não queria mais pensar nesse 
assunto. Takagi insiste tanto que ele acaba aceitando. O que mais motiva
 Mashiro a se tornar um mangaká de sucesso é a promessa que a garota de 
quem ele gosta, Miho Azuki, fez: quando os dois realizarem seus sonhos, 
eles podem se casar. O sonho de Azuki é se tornar dubladora e dublar a 
heroína do anime feito a partir do mangá que a dupla pretende escrever  -
 e esse mangá precisa fazer muito sucesso para virar anime! Essa é a 
"desculpa" que o roteirista do Bakuman, Tsugumi Ohba, usa para 
mostrar como funciona a "indústria" de mangás - ou pelo menos a minha 
impressão é essa. A arte é assinada por Takeshi Obata.
Eu sei que talvez seja preconceito meu, mas não me animo a ler a maioria
 dos mangás, porque, pelo menos para mim, é bem claro que o mangá é 
muito mais um produto comercial do que cultural. Não importa se o 
roteiro é coerente, se mostra algo novo e interessante aos leitores, 
pode ser a coisa mais imbecil do mundo, mas, se as pessoas gostam e 
compram, se torna algo de grande valor. Em Bakuman, a expectativa
 de vendas é medido por uma enquete feita pela editora: só os mangás 
aprovados pelo público têm chances de continuar sendo publicados. Como a
 publicação é muito regulada pelo gosto (duvidoso) do público, então a 
criatividade e a genialidade dos mangakás não podem se manifestar 
livremente, estando sempre condicionadas às limitações e vontades do 
público-alvo. Não é triste isso?
De qualquer forma, esse mangá está sendo bastante interessante do ponto 
de vista profissional. Dá para ter uma ideia de todo o processo de 
produção de um mangá, contratação de mangakás, como se desenvolve a 
carreira de um mangaká e de um editor de mangás, de que forma 
roteirista, ilustrador e editor trabalham juntos, a rivalidade entre os 
profissionais da área. E, apesar de o mote principal do roteiro não ser 
muito plausível (com 14 anos, quem pensa em prometer se casar com outra 
pessoa quando seus sonhos se realizarem?), o restante me interessa.
Publicado originalmente em 08/07/2012 aqui.

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